Dia 19/150: Leitura de sonetos de Camões

 

                Oi, pessoal. Hoje é dia de leitura por aqui. Camões é a inspiração para este dia. Este poeta português tem presença constante nas questões de linguagem do ENEM.


Luís de Camões » Recanto do Poeta


              Roteiro de hoje (dia 19/150): 

           1) Ler os poemas abaixo, para reconhecer neles a autoria de Camões e aumentar seu repertório cultural clássico;

          2) Assistir a uma apresentação da banda Legião Urbana, interpretando "Monte Castelo", de autoria de Renato Russo, em clara intertextualidade com o soneto ˜Amor é fogo que arde sem se ver"
                                    

                                                                                                                                                                                   Bom trabalho aí!


💛 💛 💛


                                                 Amor é fogo que arde sem se ver


 

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

 

 

                           Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.



                                Tanto de meu estado me acho incerto 

Tanto de meu estado me acho incerto, 

que em vivo ardor tremendo estou de frio;

sem causa, juntamente choro e rio,

o mundo todo abarco e nada aperto.

 

É tudo quanto sinto, um desconcerto;

da alma um fogo me sai, da vista um rio;

agora espero, agora desconfio,

agora desvario, agora acerto.

 

Estando em terra, chego ao Céu voando,

numa hora acho mil anos, e é de jeito

que em mil anos não posso achar uma hora.

 

Se me pergunta alguém porque assim ando,

respondo que não sei; porém suspeito

que só porque vos vi, minha Senhora.

 

 

                               Busque Amor novas artes, novo engenho

 

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
 
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
 
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
 
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

 

 

    Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

 

Se lá no assento etério, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

 

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;

 

Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

 

 

Ao desconcerto do Mundo
 
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

 

 

 

Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por soldada pretendia.

Os dias na esperança de um só dia
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que por enganos
lhe fora assi negada sua pastora,
como se a não tivera merecida,

tornando já a servir outros sete anos,
dezia: –Mais servir(i)a, se não fora
p[e]ra tão longo(s) a[m]o[r] tão curta vida.

 

                                                                

                                                                💛 💛 💛



Link para o show de Legião Urbana: 


https://www.youtube.com/watch?v=AKqLU7aMU7M




                                              Até amanhã! Professora Lou


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